ARANDU & INSTITUTO BORORÓ
Apoio ao Arandu Ecopedagogia
Arandu Ecopedagogia é um projeto de contraturno que tem como objetivo oferecer atividades com foco em artes, cultura e meio ambiente para crianças e adolescentes da cidade de Pirenópolis, desde 2020. O projeto é mantido através de mensalidades, doações e projetos realizados de forma coletiva. A partir de 2023 foi realizada uma parceria com o Instituto Bororó que tem sido um apoio institucional contribuindo na execução de projetos como as oficinas de percussão que são oferecidas de forma gratuita às crianças e adolescentes da comunidade, a realização do espetáculo Pequi Sonoro: Brinquedo Rítmico, a aquisição de instrumentos musicais e aulas de iniciação musical para adolescentes do projeto.
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Encontro Afro-Indígena no Cerrado.
“TumaraCuité”
O Projeto TumaraCuité, idealizado pela Cia. Akdorge Maracatu e Instituto Bororó tem como missão a revitalização da união entre os povos originários e o povo negro no Brasil. Após alguns meses de vivências com o indígena Tsaka Fulni-ô e o renomado músico Bororó Felipe, registramos e compartilhamos o resultado desse re-encontro ancestral através da música sagrada do povo Fulni-ô! Esperamos que a força da música ancestral revigore e fortaleça os laços de amizade, respeito e magia entre a cultura afro e indígena do Brasil.
Ficha Técnica
Arranjos: violão, contrabaixo: Bororó Felipe Voz: Tsaka Fulni-ô e Bororó Felipe Captação Áudio: Stucchi Lab Mixagem e Masterização: Vanderlei Loureiro Captação e Edição de imagem: Georgia Carrera Parceria: Confuso Casarão e Instituto Bororó Produção Executiva: Carla Costa (Confuso Casarão) Apoio de Produção : Uyara Queiroz Locação: IPEC – Instituto de Permacultura e Ecologia do Cerrado
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SABERES & FAZERES
O projeto Saberes & Fazeres realizado em parceria com o Instituto Guardiã do ser teve como objetivo realizar oficinas ministradas por mestres acerca de saberes e fazeres referente às tradições quilombolas para jovens e adultos das comunidades Kalunga, com o intuito de auto desenvolvimento de competências de acesso à ferramentas digitais para registro de sua própria história, pesquisa e registro em audiovisual do acervo musical Kalunga.
Os motivos que deram origem ao projeto, com indicação de dados históricos de projetos similares e/ou fontes de informações disponíveis:
A perda de conexão dos mestres com os mais jovens na transmissão das tradições dos saberes e fazeres originários de seu povo na comunidade quilombola Kalunga. O afastamento das tradições da comunidade e os riscos de destruição identitária de uma geração transmissora destas práticas.
Durante o projeto, participantes das comunidades dos 3 municípios reunirão-se no espaço coletivo “Tuia” para as oficinas, que fica em Tinguizal município de Monte Alegre de Goiás.
Os efeitos que o projeto proporcionou na comunidade local/regional
a) Sociais: Desenvolvimento humano dos kalungas com oportunidade de acessar e reconhecer o papel dos mestres como transmissores orais de saberes e fazeres Kalunga.
b) Culturais: O registro da obra musical do quilombo para acervo permanente de sua cultura. O municiamento dos jovens da comunidade com ferramentas de audiovisual para que, através dos registros feitos por eles mesmos, tornem-se agentes mantenedores de sua cultura.
Foram ministradas oficinas:
dança, formação e pesquisa audiovisual em geral, música popular, preservação de patrimônio imaterial, ações de formação e capacitação em geral.
Todo o processo das Oficinas teve como base as tradições orais, patrimonializadas e sustentadas por mestres do Sítio quilombola Kalunga, que contempla 36 comunidades de três municípios.
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Brasil Kalunga
Brasil Kalunga – é um projeto de produção musical que guarda em si a idéia de retomada. Retomar, em primeiro lugar, uma parte da nossa história, cuja dinâmica ainda se nos apresenta, pela existência ao norte do estado de Goiás, do último e mais antigo remanescente de quilombo do Brasil, o quilombo dos Kalungas. Memória viva dos hábitos, crenças e mitos dos escravos do Brasil colônia, cuja saga continua no sentido da preservação do seu território, da sua identidade cultural e da melhoria da sua atual condição de vida.
Retomar, não só o privilégio da memória, mas, principalmente, a possibilidade de passarmos de uma condição de herdeiros passivos de um patrimônio histórico-cultural e ambiental desta envergadura, para uma condição de agentes co-responsáveis e atuantes no processo de desenvolvimento da sociedade e da cultura brasileira. No sentido de materializar esta ideia propõe-se a realização de uma trabalho musical completado pela poesia, fotografia, artes gráficas, amparando numa sólida base de pesquisa histórica e de vivência in loco, capaz de representar o resultado criativo do encontro de um grupo de artistas com este peculiar universo cultural afro-brasileiro.
O produto cultural proposto constitui-se na produção de um CD com as seguintes características:
- Produção de CD com músicas compostas pelo cantor, compositor, arranjador e instrumentista Bororó Felipe. Letras do poeta Carlos Ribeiro. Criação da capa e encarte do artista plástico Melo Menezes. Fotografia do fotógrafo e jornalista Rui Faquini. Designer gráfico do arquiteto e artista gráfico Carlos Sena.
- O processo criativo do CD, em todos os segmentos de arte acima descritos, se desenvolverá à partir do intercâmbio e interação dos artistas citados como os músicos e cantores da comunidade Kalunga, através da pesquisa em convivência in loco com os sons, ritmos e cânticos por eles praticados em seus rituais religiosos e festividades coletivas de identidade afro-brasileira e de seu acervo literário de tradição oral, no sentido de traduzir, através da visão pessoal de cada artista, a essência da cultura Kalunga.
- Um grupo de músicos da comunidade Kalunga foi convidado a participar da gravação de algumas músicas, onde se fez uma fusão de seus cânticos com a composição e arranjos do músico Bororó Felipe, que resultou, com certeza, numa sonoridade original e rica cem novos sentidos.
- O CD conta ainda com a participação de arranjadores e instrumentistas de renome nacional e com a participação especial de nomes expressivos da música popular brasileira como Chico Buarque, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Zeca Baleiro, Paulinho Moska, Sergio Ricardo e os cantadores e violeiros da comunidade Kalunga.
Público Alvo
O tema referente é o remanescente de quilombo denominado Kalunga, situado no território goiano, reveste-se de grande importância histórica e social, capaz de atrair tanto o interesse específico da comunidade afro-brasileira, no sentido do fortalecimento da identidade histórica dos negros brasileiros, através de suas inúmeras entidades culturais representativas, quanto dos demais segmentos da sociedade dedicados à difusão de conhecimentos voltados para a afirmação e valorização da nossa identidade cultural e de nosso patrimônio humano, histórico e ambiental. Desta forma, o produto cultural proposto visa ir ao encontro do interesse do público em geral e das entidades culturais nacionais e internacionais, em particular, representativo, em cujo universo cultural prevalece o ritmo, a alegria, as cores, a forte religiosidade, enfim todos os símbolos de força resistência da do povo preto, que sempre exerceu uma profunda influência sobre a música popular brasileira e a cultura em geral.
Trata-se, portanto, de um trabalho musical de relevância cultural para constar em acervos de Organizações Não-Governamentais (ONGs), Secretarias de Cultura, Fundações Culturais e de Arte, Livrarias e Bibliotecas Universitárias, Centros de Cultura, Instituições Educacionais em todos os níveis entidades voltadas ao estudo e preservação da Cultura Negra no Brasil. Ressalta-se ainda o profundo interesse das entidades culturais e preservacionistas internacionais em produtos culturais desta natureza.
Quanto ao tema
O presente projeto, ao abordar o tema da força da resistência de uma raça, implicitamente, levanta os problemas atuais enfrentados pela comunidade Kalunga, remanescente de quilombos, e sua inserção no contexto das populações de raça negra do Brasil, sobretudo no que se refere a necessidade de providências urgentes por parte do Poder Público, quanto a continuidade e conclusão da demarcação e titularização legal de suas terras, transformadas por lei em Patrimônio Cultural e Sítio de Valores Históricos, como pressuposto básico a continuidade da preservação de sua liberdade e identidade cultural. O projeto, além de documentar um patrimônio cultural desse porte, propõe-se a contribuir para conscientização da sociedade, através da arte e da reflexão crítica sobre a necessidade do exercício da cidadania no apoio a implementação de nossas leis de proteção ambiental, que abarcam, entre outros bens, os bens culturais de valores artísticos, estético, histórico, monumental, paisagístico, no sentido do fortalecimento da nossa própria identidade como cidadãos brasileiros.
A importância de se retomar e de se proceder a uma leitura sensível e atual de momentos fundamentais da história brasileira, com objetivo de colocar ao alcance de um público maior questões cruciais dos tempos de hoje, como a necessidade de se evitar a descaracterização das identidades culturais dos povos originários (índios e negros) e também das identidades culturais regionais. O projeto, além de documentar um patrimônio cultural desse porte, propõe-se a contribuir para conscientização da sociedade, através da arte e da reflexão crítica sobre a necessidade do exercício da cidadania no apoio a implementação de nossas leis de proteção ambiental, que abarcam, entre outros bens, os bens culturais de valores artísticos, estético, histórico, monumental, paisagístico, no sentido do fortalecimento da nossa própria identidade como cidadãos brasileiros.
Quanto a proposta de elaboração artística
A forma de elaboração do produto cultural proposto (CD), à partir da pesquisa e da vivência de um grupo de artistas goianos, de vários segmentos, juntos às manifestações artísticas e modo de vida desse peculiar universo cultual afro-brasileiro dos Kalunga, abre um canal de comunicação para o que é diferenciado e autêntico na riquíssima cultura do nosso Estado de Goiás, estimulando a expressão individual e coletiva na conquista da originalidade artística e estética.
Representa, portanto, um valioso estímulo à capacidade e qualidade artística e técnica dos nossos artistas atuantes na área da produção cultural, capaz de difundir com brilhantismo a cultura popular de Goiás, levando o nome do nosso Estado para outras partes do Brasil e além de nossas fronteiras.
Território
O território Kalunga possui 204.000 hectares estendendo-se por três municípios do norte do Estado de Goiás: Cavalcante, Monte Alegre e Terezina de Goiás, situados a mais de 500 Km da capital do Estado, Goiânia.
Os Kalungas tem seu território ancestral invadido nas últimas décadas por projetos agrícolas, mineração, construção de hidrelétricas e por especuladores, que através de ameaças, propostas de venda e diversas outras formas de constrangimento, querem se apropriar de suas terras.
Diante desse quadro, Goiás torna-se o primeiro Estado brasileiro a colocar em prática o dispositivo da Constituição (parágrafo 5º do artigo 216), que determina o tombamento de sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos, através de Lei aprovada em 10/01/91, e sancionada pelo então Governador do Estado, caracterizando o território Kalunga como Patrimônio Cultural e Sítio de Valor Histórico.
POPULAÇÃO (Cont.)
A Nação Kalunga, assim considerada por possuir uma raça unificada e um sistema socioeconômico e político com características próprias, possui uma população em torno de 90.000 habitantes distribuídos por 05 núcleos de maior importância – Vão do Moleque, Ribeirão dos Bois, Vão das Almas, Contenda e Kalunga – e por uma centena de pequenas outras localidades.
SISTEMA ECONÔMICO, SOCIAL E POLÍTICO
“… os Kalunga praticam a agricultura como atividade de subsistência e participam do mercado regional, eventualmente como empregados, ou vendendo e rocando produtos agrícolas. A organização social sem classes e a posse da terra se baseiam nos grupos familiares.” (REVISTA CIÊNCIA HOJE. V 13, n. 75, jul. 1991).
“A vida do Kalunga obedece a uma ordem social solidária, ser cidadão – Kalunga, isto é, morador-Kalunga pressupõe a posse de todos os bens, a mata, os animais, a casa, a roça. Kalunga é um lugar onde não existe a liberdade de passar fome, chorar sozinho e viver em solidão. As crianças são amadas e cuidadas. Os velhos são respeitados e podem transmitir sabedoria e cultura. Em simbiose com a natureza sacralizam a terra e não destroem o meio ambiente. Sua filosofia e literatura estruturam o saber e ciosamente, guardadas pela memória coletiva são repassadas às crianças e jovens.” (BAIOCCHI, Mari de Nazaré. Kalunga, os ipês ainda florescerão. O Popular. Goiânia, 16/09/90. P.25, c 1-4)
UNIVERSO CULTURAL
Ano após ano, os Kalunga praticam rituais de profunda religiosidade envolvendo suas manifestações artísticas peculiares, com características autenticamente afro-brasileiras. O calendário marca as festas e comemora os santos: Santo Antônio (13/06), São João (26/06), São Sebastião (20/07), São Gonçalo do Amarante, Nossa Senhora D’Abadia, Nossa Senhora da Conceição, do Rosário…, Romarias: D’Abadia (15/08), da Senhora do Livramento (15/09) e São Simão, no mês de outubro.
Segundo a antropóloga Mari de Nazaré Baiocchi, o sistema de festas ressalta-se como de fundamental importância para o estudo de sobrevivências africanas e da religiosidade e acrescenta: “A Festa de São João, por exemplo, é a mais que uma simples cerimônia. Em seus rituais e simbologia revive a África, corporificando-a, utilizando um sincretismo original praticado por toda comunidade. Chamamos de sincretismo original todo o processo que acompanha a Festa de São João, santo católico cultuado em diversas regiões brasileiras, aí empresta seu prestígio para a recriação da mãe África. O processo formal da Festa de São João inclui:
1 – Organização espacial: construção de uma aldeia constando de moradias, casa de santo ou capela, cozinha comum, casa do Imperador, para abrigar um pouco mais de 300 pessoas.
2- Novena – 09 (nove) dias de rezas.
3 – Festeiros em número de 12 (doze).
4 – Cerimônia maior, 03 (três) dias de duração.
5 – Práticas Rituais (Batismo).
6 – Folia do Cipó.
7 – Sussa, a dança sagrada. Nos cânticos são expressos um desrespeito autorizado e indecência por palavras e gestos, o que faz lembrar Wubwong’u. Na Sussa, cantam improvisos maliciosos, suscitando controvérsias quanto à fidelidade masculina ou feminina.” (BAIOCCHI, Mari de Nazaré. Calunga – Kalunga: Universo Cultural. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás. Goiânia, Jan/86, v.n.11)